Jane Patrícia Haddad

Palestras e Conferências

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Os gritos silenciosos e os ruídos ensurdecedores de Pablo, Cleiton, Caio, Samuel, Douglas, João Vitor, Marilena, Eliana...

OS GRITOS SILENCIOSOS E OS RUÍDOS ENSURDECEDORES DE PABLO, CLEITON, CAIO, SAMUEL, DOUGLAS, JOÃO VITOR, MARILENA, ELIANA...

Por: Jane Patrícia Haddad

 

 

Artigo publicado em minha coluna no mês de março na Revista da Escola Direcional 2019

 

 

O Massacre ocorrido no último dia 13 de março, na Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo ainda ressoa em nossos ouvidos e olhos. Mais um mal-estar na educação e uma pergunta no ar: o que motivou aquele adolescente e aquele jovem, a assassinar aqueles adolescentes, as duas educadoras e depois cometer suicídio? Será esse acorrido consequência do excesso de tecnologia, como alguns arriscam afirmar? Não tenho essas respostas, o que tenho é desejo de contribuir positivamente com essa triste realidade em que nos encontramos.


No silêncio desta noite, escrevo esta minha coluna em lágrimas, tento apagar na minha memória, mais um triste episódio de um filme de terror sem fim. 13 de março de 2019, mais um dia marcado na memória de muitos e esquecido no volume de informações recebidas diariamente. Ao escrever, visito meu caminho percorrido dentro das escolas, e continuo afirmando que é possível mudarmos essa realidade, ou melhor, contribuirmos para uma parte dessa mudança.


Alguns dizem que sou sonhadora, pode até ser, mas faço a minha parte e aposto nas novas gerações.


O momento atual é de angústia, medo e descrença das instituições, estamos frente a rupturas jamais vividas. Nas escolas, crianças e jovens e professores sinalizam uma desesperança que vem doendo, adolescentes deprimidos, suicidas, buscando nas drogas uma anestesia da vida real, falam da falta perspectiva de futuro, demonstram não ter em quem se “espelhar”, e muito menos com quem conversar, muitos deles seguem suas vidas sobrevivendo dia a dia. Mais uma vez, algo nos escapou, escorreu pelos nossos dedos, mais uma vez não enxergamos um PEDIDO DE SOCORRO, colocado em ATO da pior forma possível.


Algo tem saído do controle, basta olharmos as últimas tragédias: O mar de lama de Brumadinho em Minas Gerais, o massacre em Suzano na grande São Paulo, massacre na Nova Zelândia transmitido ao vivo. Crianças apavoradas pelo desafio da MOMO, adolescentes que se renderam ao jogo da Baleia Azul, feminicídios, crianças e adolescente abandonadas por aqueles que deveriam ser seus cuidadores, políticos que pregam o ódio como saída do caos e assim caminha nossa triste e doente humanidade.


Quantos sonhos terão que ser interrompidos para que possamos entender que todos nós somos responsáveis pelo que está acontecendo na humanidade?


Não podemos e não devemos continuar descartando crianças e jovens de nossas vidas e de nossas escolas. A violência cresceu e cresce diariamente, virou um vírus sem vacina, mata-se por um par de tênis; executa-se pessoas por pensarem diferente de nós, classificam-se estudantes por nomes de doenças e circunstâncias, sem contar a (s) chamadas (in) disciplinas e patologia (s) hospedados na educação (s). Ao meu ver, plantar minas de explosivos e ser vítima delas é parte de um mesmo plano.


Nossa educação, testemunhou mais um massacre, mais um horror, choramos com cada pai, com cada mãe, com cada filho, com cada educador...o momento é de luto e que essa dor nos alerte para que nossas crianças e jovens não caiam no anonimato.


Hoje, eu peço a cada um de vocês: tentem tirar um aprendizado diante dessas tragédias, que esse episódio nos ensine recalcular a rota, que nos ajude a evoluir, que ele nos sirva de reflexão-ação para um outro OLHAR, que possibilite enxergar os estudantes “invisíveis” que passam por nossas escolas envelhecidas. Hoje, eu peço que essas crianças, adolescentes e filhos(s) anônimos, que frequentam aulas invisíveis de sentido, sustentadas em pseudo-objetivos pedagógicos, pautados em uma concepção de desenvolvimento do ser humano, muitas vezes de cunho comparativo e excludente, atendendo a um sistema educacional mercadológico e excludente, onde os “bons” ficam e os “maus” saem. Hoje eu peço, que não classifiquem crianças e jovens por notas e provas, educar ultrapassa isso. Se não descobrirmos nossa importância no mundo, dificilmente seremos capazes de fazer alguma mudança na vida de alguém. Por tanto, que os gritos silenciosos e os ruídos ensurdecedores daquele triste dia, possam ser o intervalo para novos dias onde poderemos olhar para trás e dizer: Nos perdoem, PABLO, CLEITON, CAIO, SAMUEL, DOUGLAS, JOÃO VITOR, MARILENA, ELIANA...



[1] Artigo publicado em minha coluna no mês de março na Revista da Escola Direcional 2019.