Jane Patrícia Haddad

Palestras e Conferências

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O marketing da loucura: Estaremos todos insanos?

 

Recentemente descobri um documentário que me deu muito o que pensar. Muito do que diz lá eu de certa forma já sabia, mas muitos
argumentos  são novos e assustadores.
Trata-se de O Marketing da Loucura: Estaremos  todos insanos?
O documentário trata principalmente sobre a relação da  indústria do marketing com a indústria farmacêutica, de sua busca por lucros  cada vez maiores e, principalmente de suas vítimas, os pacientes psiquiátricos.  Afinal, neste documentário são quase três horas de informação! Mas são três  horas que realmente valem a pena…


Alguns dos pontos mais interessantes  que o documentário mostra é o desenvolvimento histórico do uso dos medicamentos  psicotrópicos, o motivo por trás disso e seu real funcionamento. O que me chamou  bastante a atenção é a relação criada entre os medicamentos e as doenças, quase  como se uma doença passasse a existir ou a ganhar reconhecimento não por sua  gravidade ou seriedade mas sim porque existe um remédio no mercado para tratar a  doença.


Percebemos isso com a depressão, que só deixou de ser considerada “frescura” e ganhou status de doença mental na década de 80, com o lançamento do  Prozac. Ou ainda o abuso do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, o  TDAH, com as prescrições de Ritalina
– um estimulante com o mesmo funcionamento  da cocaína. O mais atual agora é o Transtorno Bipolar, um transtorno já  discutido há algum tempo, mas agora com os novos medicamentos, praticamente  todos são diagnosticados com esse transtorno, mesmo sem apresentar os  sintomas…


As ditas “doenças mentais ” são uma forma médica de compreensão do sofrimento humano.  A humanidade sempre sofreu e
sempre sofrerá, mas parece que cada vez mais não  podemos passar por isso. Talvez nem todo o  sofrimento seja reduzido ao funcionamento bioquímico do cérebro e sua adaptação  ao mundo. Talvez a "adaptação" ao mundo seja mais patológica e doentia do que  ficar triste perante um mundo em evidente destruição. É uma espécie de lobotomia  em relação ao senso crítico e transformador da sociedade. Quem se beneficia de  cidadãos apáticos, anestesiados e medicados?  Onde está a saúde, onde  começa a doença?

 

Medicalizamos o sofrimento e transformamos isso em doença  tratável.
Mas, qual é o problema em sofrer? Não posso mais ficar triste e me revoltar olhando uma realidade caótica de destruição, egoísmo e insensatez?  Desde quando tristeza, mesmo a profunda, é doença?
São várias perguntas  que, quando conhecemos os fatos por trás, nos deixam de cabelo em pé. E  percebemos que existem muito mais
questões junto a essas. É claro que o  documentário apresenta várias restrições, principalmente com relação à fundação  dos
argumentos, por exemplo, os profissionais consultados não são apresentados  com suas filiações acadêmicas e também ao final de
todo o problema ser  apresentado, o documentário não mostra uma solução possível além da divulgação  do mesmo documentário. Mas mesmo assim, os argumentos nos dão muito o que pensar  e bastante material para refletir. Não sei se alguns desses dados conferem, mas mesmo assim vale a pena refletir sobre  isso.