Sessão de apoio à Escola da Ponte

2003-10-09 

(Texto original - Portugal)

Pais, alunos e professores da Escola da Ponte não desistem do projecto e esperam que a decisão do ministro da Educação, David Justino, seja um estímulo para que outras escolas sigam o exemplo de Vila das Aves.

Foram discursos de resistência e não de lamentação aqueles que se ouviram ontem na Escola Superior de Educação (ESE), no Porto, numa sessão pública de apoio à Escola da Ponte, em Vila das Aves. Apesar dos entraves colocados pelo Ministério da Educação (ME) à continuidade do projecto como Escola Básica Integrada, nenhum dos presentes (pais, investigadores, professores) pôs em causa o fim da Escola. Como afirmou um dos pais dos alunos da Escola da Ponte, "não podemos desiludir os nossos filhos".

O que poderia ser visto como uma machadada ao projecto Fazer a Ponte,, foi encarado como um desafio à resistência. Em Julho deste ano o ME deu a conhecer oficialmente que não pretendia abrir o 7.º ano na Escola de Vila das Aves, contra o parecer de uma comissão de avaliação instituída a seu pedido para avaliar o projecto. Com um quadro de apenas cinco professores (a restante equipa, formada por docentes destacados, regressou às escolas de origem como protesto contra a decisão), a escola continua a funcionar, com os alunos mais velhos a ajudarem os mais novos nos trabalhos escolares.

Por tudo isto, ontem, José Pacheco, fundador da escola, chegou a considerar a hipótese de colocar um busto de David Justino à porta do estabelecimento de ensino. Só para que "a Ponte não seja a excepção à regra", isto é, uma espécie de estímulo para que "este movimento seja o começo de alguma coisa".

Antes de José Pacheco, outros intervenientes tinham participado no encontro, entre os quais Ademar Ferreira dos Santos, presidente da Comissão Instaladora da Ponte, e professores da ESE, que, de alguma forma, já tinham tido contacto com a escola. Rosário Gamboa, presidente do Conselho Directivo da ESE, não hesitou em referir-se à "causa da Ponte" como um "combate político". "O que a Escola da Ponte pede é um contrato de autonomia que está dentro da retórica da política educativa do País", declarou.

Todos os oradores frisaram a perplexidade que o projecto da Escola da Ponte, vivido no terreno, lhes despoletou. Para Graça Mota, a equipa de investigação na área da música, da qual faz parte, que trabalhou durante dois anos na escola, experimentou um "desconforto excitante", enquanto que Deolinda Araújo, que realizou uma tese de mestrado sobre a Escola, afirmou ter convivido "com uma realidade educativa com a qual só tinha sonhado". Paulo Topa, ex-aluno da ESE, que estagiou na Escola da Ponte, vai mais longe: "Quando alguém me diz que não é possível uma escola assim eu digo para ir à Ponte".

O testemunho mais emotivo acabou por vir da assembleia presente, pela voz de um dos pais dos alunos da Escola da Ponte. "Porque carga de água é que um senhor de Lisboa que não conhece os nossos filhos nos vem dizer o que é melhor para eles?", questionou. Também este encarregado de educação admitiu a desconfiança que o primeiro contacto com a Escola lhe suscitou. "Pensei: daqui a pouco estão os professores cá fora e os alunos lá dentro", confessou. "Mas o que é certo é que funciona", concluiu.

 

 

 


<< Voltar