Foram discursos de
resistência e não de lamentação aqueles que se
ouviram ontem na Escola Superior de Educação (ESE),
no Porto, numa sessão pública de apoio à Escola da
Ponte, em Vila das Aves. Apesar dos entraves
colocados pelo Ministério da Educação (ME) à
continuidade do projecto como Escola Básica
Integrada, nenhum dos presentes (pais,
investigadores, professores) pôs em causa o fim da
Escola. Como afirmou um dos pais dos alunos da
Escola da Ponte, "não podemos desiludir os nossos
filhos".
O que poderia ser
visto como uma machadada ao projecto Fazer a Ponte,,
foi encarado como um desafio à resistência. Em Julho
deste ano o ME deu a conhecer oficialmente que não
pretendia abrir o 7.º ano na Escola de Vila das
Aves, contra o parecer de uma comissão de avaliação
instituída a seu pedido para avaliar o projecto. Com
um quadro de apenas cinco professores (a restante
equipa, formada por docentes destacados, regressou
às escolas de origem como protesto contra a
decisão), a escola continua a funcionar, com os
alunos mais velhos a ajudarem os mais novos nos
trabalhos escolares.
Por tudo isto, ontem,
José Pacheco, fundador da escola, chegou a
considerar a hipótese de colocar um busto de David
Justino à porta do estabelecimento de ensino. Só
para que "a Ponte não seja a excepção à regra", isto
é, uma espécie de estímulo para que "este movimento
seja o começo de alguma coisa".
Antes de José
Pacheco, outros intervenientes tinham participado no
encontro, entre os quais Ademar Ferreira dos Santos,
presidente da Comissão Instaladora da Ponte, e
professores da ESE, que, de alguma forma, já tinham
tido contacto com a escola. Rosário Gamboa,
presidente do Conselho Directivo da ESE, não hesitou
em referir-se à "causa da Ponte" como um "combate
político". "O que a Escola da Ponte pede é um
contrato de autonomia que está dentro da retórica da
política educativa do País", declarou.
Todos os oradores
frisaram a perplexidade que o projecto da Escola da
Ponte, vivido no terreno, lhes despoletou. Para
Graça Mota, a equipa de investigação na área da
música, da qual faz parte, que trabalhou durante
dois anos na escola, experimentou um "desconforto
excitante", enquanto que Deolinda Araújo, que
realizou uma tese de mestrado sobre a Escola,
afirmou ter convivido "com uma realidade educativa
com a qual só tinha sonhado". Paulo Topa, ex-aluno
da ESE, que estagiou na Escola da Ponte, vai mais
longe: "Quando alguém me diz que não é possível uma
escola assim eu digo para ir à Ponte".
O testemunho mais
emotivo acabou por vir da assembleia presente, pela
voz de um dos pais dos alunos da Escola da Ponte.
"Porque carga de água é que um senhor de Lisboa que
não conhece os nossos filhos nos vem dizer o que é
melhor para eles?", questionou. Também este
encarregado de educação admitiu a desconfiança que o
primeiro contacto com a Escola lhe suscitou.
"Pensei: daqui a pouco estão os professores cá fora
e os alunos lá dentro", confessou. "Mas o que é
certo é que funciona", concluiu. |