Mensagem no Twitter do apóstolo Paulo
Se o apóstolo Paulo vivesse hoje, visitasse uma de nossas
escolas, andasse
entre os adolescentes e jovens durante o recreio, saísse com
eles,
participasse de suas conversas, fosse com eles a um
barzinho, uma festa,
navegasse na Internet, mandando e recebendo mensagens e
emails, conversasse
no Skype, no MSN, abrisse uma página no Orkut, no Twitter,
talvez
reescrevesse assim a sua carta aos Coríntios.
- Se eu aprender inglês, espanhol, alemão ou qualquer outro
idioma, se puder
navegar pela Internet e falar com as pessoas, ao redor do
mundo, em tempo
real, mas não tiver uma palavra de amor a dizer aos que se
comunicam comigo,
de nada vale tanta tecnologia...
Se eu for aprovado no colégio, no vestibular; se brilhar no
ENEM
e concluir com brilho a Universidade. Se eu for diplomado
com louvor na
melhor faculdade e freqüentar cursos e mais cursos de
aperfeiçoamento,
pós-graduação e doutorado, mas viver alienado e distante dos
problemas do
meu povo, tanta cultura acumulada não passará de inútil
erudição.
Se eu, formado, bem remunerado, bem de vida, frequentar
shoppings e outros pontos da moda, desconhecendo ou ficando
indiferente ao
sofrimento dos que moram nas periferias da cidade grande...
Se morar numa casa ou apartamento espaçoso e confortável, se
usar a roupa e o tênis mais transados, mas não perceber que,
também por
causa da minha omissão, existem os que dormem sob marquises
e viadutos, os
que andam de pé no chão, os que se cobrem com trapos sujos,
sou apenas um
belo manequim, vazio e colorido, nas vitrines da vida...
Se passar meus fins de semana em festas, barzinhos e outros
programas com minha turma, gastando, às vezes, numa noite, o
salário de um
mês de um trabalhador...
Se eu curtir a vida sem ver a fome, o desemprego e a falta
de
recursos dos que estão tão próximos a mim. Se não escutar o
grito abafado
que vem do menino de rua, do mendigo, do catador de papel,
do aposentado e
dos carentes nas filas do INSS, nas enfermarias dos
hospitais, entre as
grades de cadeias, nas periferias da vida, nenhum proveito
tiro.
Se, nas férias, a única coisa que me importa são projetos e
programas de viagens fantásticas, dentro e fora do país, sem
considerar a
realidade dos que não podem nem mesmo sonhar, não sou um
cristão verdadeiro.
Se diante das notícias, estatísticas e números da violência,
engrosso o coro dos que pedem pena de morte, redução da
maioridade penal,
penas mais duras e polícia mais violenta, tenho um coração
ainda mais
embrutecido, amargurado, humanamente empobrecido...
Desculpem se pareço duro e radical, mas o cristão não pode
fugir
aos desafios do seu tempo. Não fica de braços cruzados de
boca fechada e
cabeça vazia, com o coração anestesiado e insensível a tudo
que o rodeia.
Não engole a injustiça, não acha “natural e normal” as
desigualdades gritantes e absurdas do nosso mundo, a
manipulação do poder, a
corrupção e as falcatruas do mundo político. O cristão tem
no peito e nas
mãos um amor capaz de se indignar, mas que “não perde a
ternura jamais”.
Por isso o cristão não prega ódio, nem luta de classes, nem
violência. Não há lugar para ódio no coração de um cristão.
Ele não se
desespera nem desanima diante das dificuldades e fracassos,
pois sabe que
para sustentá-lo existem a Fé, a Esperança e o Amor.
E é com o Amor, a única arma verdadeiramente revolucionária,
pois muda as coisas em profundidade, que o cristão vai à
luta para construir
um mundo mais justo e fraterno, tal como Deus sonhou desde
sempre.
Nós sabemos que tudo, um dia, vai passar. O conhecimento, a
sabedoria, a ciência, tudo terá seu termo. Só permanecerão a
FÉ, a ESPERANÇA
e o AMOR.
Mas o que permanece mesmo, para sempre, podendo mudar tudo,
a
começar do meu, do seu coração, é o AMOR.
E o Amor é a partilha do Ser e do Ter...
Texto inspirado na 1ª Carta de
S. Paulo aos Coríntios (1Cor. 13,1-13)
Eduardo Machado
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