A aprendizagem sobre o Olhar da
Psicanálise
Jane Patrícia Haddad
Consultora Educacional, Palestrante e Psicopedagoga Clínica.
janepati@terra.com.br
www.janehaddad.com.br
“ No fundo de cada palavra, assisto ao meunascimento”
Alain Bosquet
Venho discutindo o tema “aprendizagem” já que, venho trabalhando com
a formação de professores e suas (dificuldades em lidar com o
processo Ensino- Aprendizagem) e principalmente com o chamado “
Fracasso Escolar”.
O
interesse sobre o tema “ Fracasso Escolar” continua me inquietando
e me movendo para uma busca no campo da psicanálise e junto dela
buscar novas propostas para uma reflexão sobre o tema.
O
que poderia ser, para Freud, o processo de aprendizagem? Em outras
palavras, o que, no entender de Freud, autoriza uma criança para o
mundo do saber? E, como a busca do conhecimento se torna possível
para ela?
Para Freud, a paixão pelo saber origina-se da curiosidade infantil
sobre sua origem. DE ONDE VIEMOS? “Qual é a minha origem em relação
ao desejo de vocês?” PARA ONDE VAMOS? “Por que me puseram no mundo,
para atender a quais expectativas e esperando que eu me torne o
quê?”
E a
pergunta: de onde viemos e para onde vamos o que tem a ver com o
aprender? Acontece que esse lugar sexual é situado, a princípio, em
relação aos pais. Assim, as perguntas sobre a origem das coisas
estariam na base das investigações sexuais infantis.
“ A
criança que pergunta por que chove e, por que existe noite e dia,
por que... e todo o resto, responde Freud, está na verdade
interessada em dois porquês fundamentais: porque nascemos e porque
morremos, ou dito do modo clássico, de onde viemos e para onde
vamos.” ( citado por Kupfer em Freud e a educação).
As
crianças que vão à escola para aprender a ler e a escrever não
parecem denunciar nenhuma dessas preocupações. Parecem?
Freud (in: Três ensaios sobre a sexualidade) nos diz que “A criança
se apega aos problemas sexuais com uma intensidade imprevista, e se
pode mesmo dizer que esses são os problemas que DESPERTAM sua
inteligência.”
Ao
final do Complexo de Édipo a investigação sexual é reprimida. Porém,
parte de sua energia é sublimada em Pulsão de Saber. Agora a criança
está autorizada a conhecer o mundo.
Aprender é aprender com alguém, que será colocado numa determinada
posição de suposto saber. Freud (citado por Kupfer, em Freud e a
Educação) nos mostrava:
“No
decorrer do período de latência, são os professores e geralmente as
pessoas que têm a tarefa de educar que tomarão para a criança o
lugar dos pais, do pai em particular, e que herdarão os sentimentos
que a criança dirigia a esse último na ocasião do Complexo de Édipo.
Os
educadores, investidos da relação afetiva primitivamente dirigida ao
pai, se beneficiarão da influência que esse último exercia sobre a
criança.”.
A
ênfase freudiana não está concentrada nos conteúdos a serem
transmitidos do professor para o aluno, mas no campo que se
estabelece entre professor / aluno, uma relação que primeiramente
foi dirigida ao pai. Transferência é nome dado pela Psicanálise a
este campo. A transferência não se dirige à pessoa, mas ao “ lugar”
que ela ocupa ou ao que ela representa no discurso. Só assim o
professor pode tornar-se a figura a quem serão endereçados os
interesses dos alunos. A transferência se produz quando o desejo de
saber do aluno se liga à pessoa do professor. O professor precisa
despertar o desejo do saber no seu aluno e esse desejo do saber tem
sua base na infância.
A
meu ver, há todo um contexto de Psicanálise e Educação a ser
estudado e entendido , começando pelo fato de que todo adulto ,
diante de uma criança depara-se, com sua própria infância
recalcada. Onde acredito que, uma educação torna-se possível,
precisamente, à medida que o adulto se distancia entre a criança
que foi um dia para outros e essa criança real junto à qual deve
sustentar uma palavra educadora.
O
que se busca quando se quer aprender algo? Só a partir desta
pergunta pode-se refletir sobre o que é o processo de ensino -
aprendizagem, pois a esse processo depende a razão que motiva a
busca de conhecimento. A busca do saber de si mesmo.
O
desejo de saber associa-se com o dominar, o ver e o sublimar. Até
aqui, pode-se perceber que a ênfase dada por Freud ao estudo da
relação entre um professor e um aluno não estava no valor dos
conteúdos cognitivos que transitam entre essas duas pessoas. Vale
dizer, na informação que é transmitida de um para o outro. A ênfase
freudiana está concentrada nas relações afetivas entre professores e
alunos.
Há, para Freud, um momento capital e decisivo na vida de todo ser
humano: o momento da descoberta daquilo que ele chama de diferença
sexual anatômica. Se, até então, os meninos e meninas acreditavam
que todos os seres humanos eram ou deviam ser providos de pênis, a
partir desse momento “descobrem” que o mundo se divide em homens e
mulheres, em seres com pênis e seres sem pênis.
Essa descoberta não é propriamente uma descoberta, já que meninos e
meninas terão tido oportunidade, antes dela, de observar que são
diferentes. A diferença está na interpretação dada a esse fato.
Meninos poderiam pensar, por exemplo, que as meninas não são iguais
a eles, mas podem vir a sê-lo, quando crescerem. Mas a descoberta
implica entender que, de fato, alguma coisa lhe falta.
A
criança descobre diferenças que a angustiam. É essa angústia que a
faz querer saber.
A
essa angústia das perdas Freud chamou de angústia de castração.
No
entanto, o que angustia não é a constatação de que algo falta às
mulheres, e pode vir a faltar aos homens. A angústia provém de uma
nova compreensão de antigas perdas à luz desse novo sentimento de
perda.
“Aqui perdi, e sei agora que também perdi o seio, e as
fezes...”poderia ser o “pensamento” inconsciente de uma criança que
está fazendo a descoberta de diferença sexual anatômica.
Para Freud as primeiras investigações são sempre sexuais e não podem
deixar de ser: o que está em jogo é a necessidade que tem a criança
de definir, antes de mais nada, seu lugar no mundo. E esse lugar é,
a princípio, um lugar sexual.
Ensinar com base em Freud é permitir que o sujeito apareça, que ele
possa estar e ser autorizado a saber, a apropriar-se. “ Só o desejo
do professor justifica que ele esteja ali, mas estando ali, ele
precisa renunciar a esse desejo”.
“
Somente alguém que possa sondar as mentes das crianças será capaz de
educá-las, e nós, pessoas adultas, não podemos entender as crianças
porque não mais entendemos a nossa própria infância. Nossa amnésia
infantil prova que nos tornamos estranhos à nossa infância” ( Freud,
1900).
Bibliografia:
-
Ferreira, P. V. P. Jornal Escolar: uma construção
de aprendizagem com ajuda do computador
http://www.pulsarvida.hpg.ig.com.br/indexpensamos.html em
22/08/2002
-
Fernandez, A.(1990). A inteligência aprisionada –
Porto Alegre: Artes Médicas
-
Freud, S. (1900). Três ensaios sobre a
sexualidade. In: Obras Completas, Imago
-
Kupfer, M. C. (1992). Freud e a Educação: o
mestre do impossível - São Paulo: Scipione
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