Mal estar - tamanho horror
Jane Patrícia Haddad
Consultora Educacional, Palestrante e Psicopedagoga Clínica.
janepati@terra.com.br
www.janehaddad.com.br
O
mundo está em crise, não uma crise qualquer, destas que, nos remete
ao crescimento e nos tira da paralisação, e sim uma crise de
“horror” de impunidade, crise de dor, de assassinatos, de descasos,
de vergonha política, enfim eu a chamo de crise da “ Normalidade”.
Tudo está virando normal.
“
Eu sei que a gente se acostuma...mas não devia...(Marina Colassanti)
.
No
primeiro momento nos chocamos, nos solidarizamos, nos colocamos no
lugar dos que acabaram de perder seus entes queridos, choramos e
até... nos indignamos.
A
mídia sabe como nos tocar, principalmente “naquilo que não queremos
olhar” e nem “ escutar”.
“
Tragédia no Aeroporto de Congonhas. ”Terça feira dia 17 de julho,
18h51min... Jornal da Globo nos Chama... Atenção! Olhem! ( mas não
vejam).
O
esperado, acontecera, o momento do “ relaxa e goza” chegou ao seu
ápice, agora era momento , de “ brochar” e rezar para que, nenhum,
ente querido “meu, seu, nosso” estivesse naquele vôo. As informações
eram tantas que, nem sabíamos mais se estávamos “escutando” algo
real ou do imaginário. Algo, já nos falava muito antes daquele
acidente, só não escutávamos.
Fico aqui , pensando, ouvindo sem escutar, no momento, me encontro
fora de casa, viajando a trabalho, sinto um vazio, uma solidão, um
verdadeiro desamparo humano, e logo me vem uma questão: Eu poderia
ser um dos “mortos”? Viajo tanto? Como seria imaginar a própria
morte?
Ao
mesmo tempo, penso no avanço da ciência, da tecnologia, lembro que
a todo momento nos deparamos com novas descobertas sobre a mente
humana e suas habilidades cognitivas, sobre as células tronco e
suas possibilidades de cura, tão discutida atualmente.
E ,
me pergunto: E o olhar humano por onde anda? O olhar do saber?
Saber, sobre algo que não estamos conseguindo ver? Saber além das
nossas máscaras? Saber o que está acontecendo com a humanidade? Com
o mundo?
No
entanto, mais uma vez , abrimos os jornais e o assistimos “sem
ver” ao show: os noticiários do horror, o tal “horror do saber
real”. Que saber é esse? Já sabíamos que isso aconteceria, era só
uma questão de tempo. E novamente, nos acostumamos, atrasos, pane
nos aeroportos... cancelamentos. Enfim, mais uma vez, permitimos de
alguma forma que o horror nos “ acordasse” antes que voltássemos a
dormir.
Hoje, fora de casa, recolhida no meu silêncio interior, ouso a
pensar sobre minha incompletude humana. Fico tentando entender o
saber de cada um? O saber da, nossa isenção de qualquer
responsabilidade?
O
show da mídia ,nos chama a “ buscar” “encontrar “e apontar
responsáveis pelo mal-estar do Horror em que nos encontramos.O
importante é que, a responsabilidade seja do Outro.
O
Vírus da “ normalidade” e da banalização humana , foi vista mais
uma vez por todos que quiseram ”ver” e entrar na Cena
: Vergonha; Local:Palácio do Planalto; “Seres Humanos em cena” .
Assessores do nosso querido , Presidente da República; Tema: A falha
não é nossa, comemoravam! mais um show de “ isenção” sobre a
tragédia aérea .
A
pouco mais de um dia do “horror” num quadro de dor, onde vidas,
sonhos, desejos e seres humanos haviam desaparecidos em chamas,
queimados pela fogueira da vaidade humana, o mais importante
naquele momento, era para eles, ditos “ seres humanos” e tantos
outros, encontrar um culpado , para tal horror inominável. Ou seria
melhor, relaxar e gozar?
A
Normalidade está nos deixando cegos, surdos e mudos.
Assassinato em massa, na Virgínia , criança morta no Rio de Janeiro
após ser arrastada por bandidos, doméstica espancada por
adolescentes, gente morrendo com balas perdidas, avião cai em
Congonhas e quantos outros horrores. Até quando?
Estamos pagando um preço alto pelo nosso descompasso entre onde
estamos e o que pensamos. Algo está fugindo do nosso entendimento? (
Jorge Forbes).
Como suportar tamanho vazio, sem encontrarmos um culpado para tudo
isso? De onde vem tanto mal-estar e tanta dor? É preciso
urgentemente, olharmos além, daquilo que estamos vendo, e não nos
conformarmos com tanta “ normalidade”.
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