Conversando com Rubem Alves

Terça-feira, 4 de dezembro de 2007

 

 Alan Dubner / www.itu.com.br

 

 

O escritor e educador Rubem Alves com a psicóloga e jornalista Deborah Dubner

 

Por Deborah Dubner

 

“O aprendizado ‘a fim de’ passar nos vestibulares – aprendizado que é logo esquecido, passado os exames – poderia ser substituído pelo aprendizado em função do prazer e da utilidade. E assim se iniciaria o cultivo do tipo de inteligência essencial ao desenvolvimento da Ciência: só é bom cientista aquele que pensa como brinca”

 

(Rubem Alves)



Como se ensina compaixão? Como se ensina mansidão? Como se ensina a ternura? Essas foram as colocações provocativas de Rubem Alves, escritor, psicanalista e educador, em um encontro íntimo com mais de 40 profissionais das áreas de educação, saúde e psicologia, realizado em Sorocaba. Organizado pela psicóloga Verônica M. Hoffman, do consultório de psicologia, o evento contou com a presença de pessoas de Sorocaba, Itu, Tatuí e Cerqueira Lange, entre outras cidades vizinhas.

A educação no Brasil é uma questão que vem preocupando pais, professores e alunos de maneira geral. Enquanto a maioria das escolas particulares privilegia o ensino voltado para o mercado competitivo e as escolas públicas não conseguem nem entrar nessa correnteza, algumas “ilhas” de profissionais inquietam-se com o futuro da humanidade que as escolas estão ajudando a formar. Rubem Alves faz parte dessa minoria angustiada, que apesar das dificuldades não perde a paixão por ensinar e aprender.

“É preciso criar uma sociedade mansa, uma cultura de paz – alerta Rubem – e as escolas não sabem como fazer isso. As escolas não se sentem livres para fazer o que os educadores acreditam, porque os pais exigem e as escolas ficam com medo de perder alunos.”

Para Rubem, que em sua diversidade profissional é membro da Academia Campinense de Letras, professor-emérito da Unicamp, cidadão-honorário de Campinas e psicanalista pela Sociedade Paulista de Psicanálise, o fundamental é ensinar a reverência pela vida, porque a vida de cada um é sagrada e todos só estão em busca de alegria. “Mas as escolas não sabem ensinar isso”, lamenta.

A violência está em toda parte, as crianças e adolescentes são humilhados com apelidos e atitudes que os marcam para sempre, mas os professores não acreditam que isso é responsabilidade deles. Assim, continuam a segregação, os anos de humilhação que geram o desejo de vingança, que por sua vez aumenta a violência. É um ciclo vicioso que se auto-alimenta. Os pais não querem se sentir para trás e muitas vezes, mesmo sem entender de educação, fazem exigências que são baseadas apenas em conversas com outros pais e comparações. Nesse sentido, Rubem comenta: “toda a nossa infelicidade se inicia na comparação, que é base da inveja. Um pai quer que seu filho aprenda a ler porque o filho de outra pessoa já aprendeu, e não porque é importante para o filho naquele momento!”.

Atualmente, sabe-se sobre a vital importância das emoções para o aprendizado. Se antigamente o Q.I era o ponto de referência para professores e psicólogos, atualmente não há discussão sobre o impacto que as emoções têm no desenvolvimento de cada ser humano (Q.E).
Mas se é assim... porque as escolas ainda insistem em ensinar conteúdo sem provocar experiência, passando conhecimentos inúteis para o teste no vestibular? Porque a escola não se concentra nos interesses dos alunos – base fundamental para o aprendizado – em vez de chegar com uma carga de material pronta para ser despejada?

“A experiência amorosa na escola é o que transforma a pessoa” – diz Rubem. A consciência nasce da experiência. Mesmo que a pessoa experimente essa consciência, quando está no grupo, ela perde a consciência individual. É como se, por estar no grupo, a pessoa se sentisse liberada da ética.” – afirma. As escolas, portanto, devem aprender a trabalhar o indivíduo no grupo e o grupo com o indivíduo, para criar a consciência do coletivo, o senso de ética e a experiência amorosa que vai interferir na criação de uma sociedade de paz. No livro “Fomos Maus Alunos”, em co-autoria com Gilberto Dimenstein, os autores revelam experiências de suas vidas e o papel da escola no desenvolvimento de sua aprendizagem. São depoimentos vivos e extremamente atuais, que instigam o leitor a muitas indagações e reflexões.

Essas discussões permearam o encontro que durou mais de 4 horas, deixando os presentes com muito mais perguntas e inquietações do que respostas. No entanto, todos saíram com a clara percepção de que a mudança na educação é urgente e que não se pode perder a esperança e a fé.
 

Conheça os trabalhos do Escritor e Educador Rubem Alves



 

 


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